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Escrevo isto porque quero desabafar e não quero mais mentir nem omitir eventos da minha vida, passado e presente.
Sempre me senti indesejada. A minha avó quando eu era pequena/bebé, dava-me de beber água com sal, em vez de leite. Chegou a partir-me a cabeça e tudo. ela sempre me odiou. Chegou a meter a minha mãe na rua comigo em bebé, com o meu irmão e tudo. o meu irmão foi tirado da minha mãe, foram a tribunal para tirar ele. a minha mãe acabou por ficar comigo, sem ninguém para tomar conta de mim, ninguém queria saber, então ela ia trabalhar de noite e quando vinha do trabalho eu dizia: mãe? e ela respondia: é a mãe sim, e só nessas alturas eu dormia.
Quando tinha os meus 3/4 anos morri afogada, um nadador salvador, pensou que eu fosse a filha dele e por isso fez-me respiração boca a boca, eu fiquei a respirar por um buraquinho de nada. ainda me lembro da memória do céu na parte de cima dos meus olhos e água escura na parte debaixo, enquanto as ondas mexiam-se nos meus olhos. fui levada imediatamente para o hospital e fui salva.
com 6 anos eu tomava conta da casa, a minha mãe trabalhava de noite e manhã, durante um pouco das tardes ela dormia, e depois a fim da tarde ia trabalhar. o meu pai abandonou-me com 2 anos e meio, por isso ela tinha que trabalhar tanto. O meu irmão deixava-me sozinha, para ir brincar com os amigos na pavalhã. Ele é 5 anos mais velho que eu, mas nunca quis saber de mim.
Com 6/7 anos fui quase violada pelos amigos dele. Fui levada para uma espécie de mata onde me tiraram a roupa toda, eles baixaram as calças. Não tenho memórias lúcidas do evento todo, mas um estava a agarrar-me os braços por detrás, outro agarrava-me as pernas pela frente, queria ser o primeiro. O terceiro estava sentado num muro pequeno e disse: deixem-na ir, e eles responderam: agora que a trouxemos até aqui? E deixaram-me ir. Eu corri e corri, durante 10 ou 20 minutos, eu não conseguia respirar, já não tinha fôlego, mas não queria parar tinha medo e receio que viessem atrás de mim. Só parei quando estava em sítio seguro, perto de casa. Após isso fiquei tímida e também receosa ao pé de homens. Nunca tinha sequer contado a ninguém por receio.
Com 6 anos eu tive um fraquinho por um rapaz de 15 anos, era filho da Dona Céu, a nossa stora. Ele costumava só ajudar a Filipa porque ela era gira. Nunca tive amigos verdadeiros na minha vida toda. Fui sempre a gozada e humilhada. Entretanto mudei de casa e comecei o meu 3º ano, no primeiro dia de visitar a escola, eu estava com uma saia, uma rapariga chamada Marlene veio ter comigo na sala e levantou-me a saia, depois disso foi buscar o resto da turma, levantou-me de novo a saia e começaram todos a gozar comigo, a partir de aí nunca mais voltei a usar saias, nem vestidos.
Eu sou uma pessoa que na realidade é muito tímida e não consiga demonstrar emoções facilmente porque me fechei bastante, talvez for isso seja algo fria.
O meu irmão sempre me bateu até eu chegar aos meus 11 anos. Ficava com nódoas negras e chorava bastante. Não tenho memórias de infância nítidas além das más. Lembro-me bem das noites passadas a olhar pela janela, a ver a lua, as estrelas, o enorme céu, enquanto ouvia a música da Ágata, Abandonada. Confesso que me fazia sentir abandonada e ficava a olhar aquele enorme céu, melancolicamente. Lembro-me da enorme tempestade que ouve, e que eu me meti a gritar a plenos pulmões pela janela pelo meu irmão. André, oh André! Era o que gritava. Chovia e dava trovoadas como se não houvesse amanhã. O céu escuro que nem breu, eu assustada queria que ele viesse, mas não veio, refugiou-se na pavalhã. Um grande trovão veio e bateu em cima da casa, o candeeiro explodiu, e caiu no chão e tudo. Meti-me a um canto a chorar a esperar que alguém viesse para me reconfortar. Após a tempestade toda, o meu irmão veio para casa e deu-me porrada.
Lembro-me da minha primeira vez feliz de verdade. Tinha feito 8 anos e recebi a minha gata! Sempre queria ter tido um animal de estimação e fiquei tão radiante! Foi nela que me apoiei e apoio, foi nela que chorei bastante. É a minha melhor amiga e quem só de pensar que um dia morrerá, choro imenso. O meu irmão uma vez fechou-me na despensa quando eu tinha coisa de 10 ou 11 anos, ás escuras, eu chorei tanto, mas como a minha gatinha estava lá com as crias, ela veio-me confortar.
Quando comecei o 5º ano, tive um fraquinho pelo João Pinto, um moço da minha turma, com os seus 15/16 anos. Todas gostavam dele, e eu admirava-o à distância. O meu irmão sempre me insultou desde os meus 10 anos de idade. Gorda, feia, nunca ninguém te quererá, barriguda e mais coisas. Sempre fui a isolada da turma, nunca tive realmente amigos, nem nunca conversei com ninguém, sempre fui uma rapariga fechada e posta de parte.
No 6º ano continuei a ser a ovelha negra, como a minha família me chama, a feia e quem ninguém queria como amiga. Nessa turma conheci uma rapariga, que foi quem me disse o que era anime, mas nunca tivemos um relacionamento de amigas mesmo. Nesse ano tive um fraquinho por um moço chamado Nuno, ele era banal de aspecto, mas prontos. Um dia quando estava a discutir com uns moços, acerca do lugar na linha de entrada do refeitório, ele passou e depois riu-se de mim. Fiquei tão magoada, que lhe ganhei rancor.
Eu depois entrei no 7º ano, onde havia duas raparigas que tiveram pena de mim, por não me enquadrar e não amigas. Pode-se dizer que nunca foram mesmo minhas amigas. A Milene nunca gostou de mim, sempre teve preconceito de eu ser pobre e ela era podre de rica. Lembro-me que ela uma vez disse-me algo, não me recordo do quê, acho que enterrei bem enterrado, para não sofrer, mas lembro-me que chorei ali mesmo na rua, até chegar a casa. A partir daí jurei nunca mais chorar em frente de ninguém.
Quando entrei para o 8º ano continuei de parte, foi nesse ano que sofri muito abuso mental. Eu tinha um casaco branco, que o meu padrasto comprou da Holanda, tinha sido barato e por isso trouxe e deu-me. Era o único casaco quente que eu tinha para suportar o Inverno. Como não tinha mais nenhum usava sempre aquele, mas costumavam gozar imenso comigo, por usar sempre o mesmo casaco. Houve uma vez que me tiraram cabelos e começaram a queimar, para ver como ficava, era cabelos no casaco. Nessa altura eu tinha usado um daqueles químicos que dá leves reflexos de alguma cor no cabelo, porque o meu cabelo era escuro. E então aquilo dava imensos estalos e uma disse: deve de ser cabelo pintado e a milene disse: ou então óleo. Senti-me imensamente espezinhada, humilhada, mas não disse nada, deixei eles estarem, mas apetecia-me chorar, ou berrar. Pouco depois disso uma rapariga chamada Tatiana, que era do meu bairro e da minha turma com 17 anos, emprestou-me um bilhete porque tinha perdido o meu passe. Pensei que fosse boa pessoa, mas agora quem me dera nunca a ter conhecido! Fez-me roubar de lojas dos chineses duas vezes. Mas a coisa que me fez ter maiores remorsos, foi ela ter-me feito roubar o telemóvel de uma rapariga chamada Marlene, moça que já me tinha traído e que era aquela da infância de levantar a saia. Eu disse imensas vezes que não, mas acabei por esconder o telemóvel na perna e carregar comigo. Ela ficou com o telemóvel e nem o quis, sei bem que a culpa foi minha de ter feito o que fiz.
Após isso tentei-me matar, tomei mais de 20 comprimidos antes de me deitar, tinha planeado tudo. Tomava-os, ia-me deitar e não voltava a acordar. Tinha remorsos e senti-me a pessoa mais baixa que existia à fase da terra, por ter roubado. Passei 24 horas a dormir, só vi escuro, quando a minha mãe chegou a casa eram umas 8 horas da noite. Ela foi-me acordar e perguntou o que eu tinha, eu contei que tinha tomado aquilo tudo, pois tinha tomado os comprimidos todos que existia na casa, e ela começou a chorar. Ela telefonou ao meu padrasto e entretanto o meu irmão chegou a casa, deu-me uma chapada com toda a força enquanto disse: O que é que te passou pela cabeça para fazeres isso? A minha mãe chamou o INEM, mas eles só disseram para me darem um copo de água com açúcar. Chorei durante quase 3 horas. Estava farta de sofrer, estava farta de ser humilhada por todos, rejeitada por todos. Após isso voltei á escola passado uns dias… Quando lá cheguei eles todos a dizerem que tinha vendido o telemóvel e que agora que tinha vendido tinha voltado. A Tatiana e a Tânia vieram ter comigo e disseram num tom irónico: nós sabemos que não foste tu que roubaste, acreditamos em ti. Sei perfeitamente quem espalhou aquilo foi a Tatiana. Apeteceu-me chorar como agora estou a chorar ao relembrar, senti-me espezinhada, humilhada, traída, e tanto mais. Voltei a tentar matar-me logo a seguir a isso de novo.
Tive 2 anos em depressão, só comia, via televisão, mas não estava lá, os meus sentimentos estavam mortos, não tomava banho, só estava ali um corpo oco. Voltei de novo para a escola, desta vez uma nova, comecei o 8º ano de novo e pensei que iria correr tudo bem, mas não.
Tive 3 meses logo iniciais da escola de abuso verbal. Fui chamada desde puta, a filha da puta, vaca, fufa, e muito mais, atenção era um pirralho de 13 anos, cigano, que nunca me tinha conhecido ou sequer visto. Tive uma recaída de 3 meses, a humilhação continuava e só me fazia sentir mal. Recuperei o máximo que pude e voltei para a escola. Já não me dizia directamente na cara, mas ouvia-o pelos cantos a chamar-me índia, convencida, a que pensa que sabe tudo e tanto mais. Não tenho culpa de ouvir uma vez e ficar-me na memória, e depois se os stores perguntarem eu respondo. Consegui completar o 8º ano com muitas lágrimas derramadas. Os insultos e humilhação mais do que tudo, sempre me magoaram imenso e profundamente.
Tive nessa turma duas raparigas minhas ‘amigas’. Uma delas era do mais interesseira e eu digo porquê. Eu consigo ler as cartas de tarot e geralmente acerto. Então ela vinha sempre a minha casa para eu ler. Nunca levei dinheiro por essas coisas. Também consigo sentir as emoções ou dores dos outros, o que me faz querer ajudar quem precisa. Por isso contei sobre o assunto das cartas, porque sempre escondi estes factos. À outra rapariga consegui modificá-la. Fazê-la compreender o ponto de vista da mãe. Ela era mimada, nunca tinha sofrido ou passado dificuldades, por isso após falar com ela e explicar-lhe. Fui modificando-a e ao fim de alguns meses começou a dar-se bem com a mãe e a não agir de cabeça quente. Quando mudei de casa a outra rapariga só cá apareceu uma vez para eu ler as cartas de tarot. Mudei-me para o outro lado da cidade basicamente, Na outra casa eu lia o tarot quase todos os dias. Agora que olho bem vejo que foi puro interesse e isso amargurou-me o facto de ter este ‘dote’.
Depois comecei o 9º ano, aliás não comecei, fui lá dois dias. A escola é longe e era de mimados, lá um disse durante a aula: Stora não precisa de ir tirar fotocópias do caderno das aulas anteriores, porque ela é Alien e de duas em duas semanas regressa á nave mãe. Fiquei tão sentida, apetecia-me ter-lhe batido, mas estávamos em aula, todos riram-se, a stora não disse nada. Ressenti bastante o que ele disse, porque foi mais uma das degradações que passei. Nunca mais lá voltei, omiti esse facto. Alias é quase mentir, ou mentir mesmo, a pessoas que adoro e que conheço via net, mas tinha medo de me criticarem ou me rejeitarem. Sei que não o fariam, mas o meu medo e receio levou-me a mentir. Por eu detestar mentiras, quero contar tudo.
A minha mãe depois como não fui para a escola, meteu-me numa Naturalista, ou lá como raios é. Usei de tudo, só piorei, quando já não tinha mais nada para vender disse: meta ela num colégio interno, pela assistente social, que ela entra nos eixos. A minha mãe chorou imenso, senti a dor dela porque sei que lhe tenho trazido imensa dor à vida. Tenho-a feito chorar, por ser assim. Por ser fraca e não conseguir seguir em frente. Por isso penso muito que devia de ter morrido, ou nunca ter nascido, ou que simplesmente devia de morrer. Sei que neste momento sou a única que lhe traz infelicidade na vida, mas por ser fraca continuo assim, de cabeça enfiada na areia. Há uns meses atrás a minha tia virou-se para a minha mãe e disse-lhe: a tua filha nunca vai melhorar, porque a alma dela morreu quando se afogou, a tua filha está morta. A minha mãe chorou, ficou de coração magoado, eu sei que ela quer que eu mostre aos outros que não sou a ovelha negra ou ranhosa da família, que consigo ser melhor que eles todos, mas eu sou fraca essa é a verdade.
Estou tão cansada de ser magoada e humilhada, que simplesmente me fecho em casa, sem fazer nada. Talvez a minha tia tenha razão, talvez esteja morta, e só este corpo continua a mexer-se, mas interiormente estou morta. Por mais que eu chore ao relembrar isto tudo e ao saber que trago sofrimento à minha mãe, não consigo ser forte e seguir em frente. Desejo bastante ser forte para tal, só escrevo isto a estas horas que são 5 e meia da manhã, porque estou a chorar e não quero que ela saiba que choro bastante, e que muitas vezes choro debaixo dos lençóis por não conseguir ser alguém melhor e como ela desejava que eu fosse. Isto porque sei que só a iria magoar mais, saber que choro. Costumo sonhar muito com o meu passado, com as pessoas que me magoaram. Mas também costumo sonhar que ela já não acredita mais em mim, o que me faz chorar quando acordo. Gostava imenso de poder ser tudo o que ela queria e quer que eu seja, mas demasiado fraca para tal. Eu sou das piores pessoas que existem, porque ela agora podia estar feliz, porque sem eu estar viva ela estaria feliz a viver uma vida pacata, ela já sofreu imenso, e eu só pioro a situação. Não importa o quanto eu esteja a chorar neste momento, ou quanto eu chore o resto dos dias, porque não consigo fazer-me mudar, para a ver feliz. Existem pessoas que sofrem muito mais que eu, por isso não me lamento, pelo contrário a minha vida não foi nada de especial, há tantos que sofrem mais que eu, mas são fortes e vão em frente. Agora eu, eu sou uma pessoa baixa por tornar os outros infelizes e nem consigo seguir em frente. Verdade seja dita eu nem devia de existir, só trouxe sofrimento à minha mãe, e preocupações. E por mais que eu chore com ranho à mistura, não consigo mudar este ser inútil que sou eu.